terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

O meu amor de Paris.

O meu amor de Paris gosta de crepes com chocolate e do quente dos aquecedores dos cafés parisienses. Gosta de ter as mãos e o coração quente. Gosta pouco de falar francês, mas recorda com um sorriso nos lábios os diálogos do "Fabuloso destino de Amélie". Gosta de tirar fotografias e registar todas as esquinas e recantos da cidade da luz. O meu amor de Paris tem as mãos quentes. E abraça-me quando o vento sopra frio e as nuvens ameaçam chover. Gosta das minhas botas rosa-choque e do meu gorro da neve. Gosta de espreitar as montras e olhar os menus. O meu amor de Paris gosta de Nutela. E gostava de saber mais sobre a história daquele metro que nos levou daqui para ali. Eu gosto dele. E gostava de saber mais sobre a história da Catedral de Notre Dâme. O meu amor de Paris gosta de passear de mochila às costas e cachecol bem apertado. Gosto de olhar para ele quando está do outro lado da carruagem. Sei que gosto dele quando o perco da mão no meio da multidão ou quando o perco no corredor do supermercado. O meu amor de Paris gosta de toblerone. E eu ofereci-lhe um. Porque quero que seja sempre assim: doce e em forma de castelo.


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A primeira vez.

Sim há uma primeira vez para tudo. Como também há solução para tudo. Aqui a solução foi a declaração amigável. Pela primeira vez bati no/com o Quovadis. A dor foi muito maior, não porque bati no Sr. R., natural dos Açores e não da Ucrânia como previ, mas sim porque estraguei o "meu" Quovadis. Toda a gente sabe da estima que tenho por ele, que tem estado nos rankings anuais como o meu melhor amigo. E agora, pronto, sou oficialmente a pior condutora que ele teve até hoje. A verdade é que também tem feito das suas - o deposito da água do motor tem tidos úlceras atrás de úlceras, o relé também já teve melhores dias, as pastilhas são piores que as gorila e os cintos sofrem de uma pequena lesão na mola de suspensão. O diagnóstico não é favorável. Mas cá nos temos aguentado. Juntos já superámos um assalto mal feito, com uma espécie de buraco-ponto negro, uma pequena infiltração no tecto (porque não tirei a antena aquando a lavagem automática), perdas constantes de peças nas saídas de ar, um furo na Marginal e agora o nosso primeiro acidente. É certo que no outro dia já tinha dado um beijinho no carro da frente a caminho de Lisboa. Mas foi um beijinho ligeiro. Sem danos colaterais. Desta vez a coisa foi mais forte. Tivémos de vestir-nos a preceito e colocar o triângulo, como alerta. Mas até nisto o QV é parecido comigo, não se deixou afectar. Depressa limpou as lágrimas e os restos do Astra que nele ficaram. Não se lamentou e hoje já se fez à estrada, muito independente com os seus dois lugares apenas.
Talvez seja este o mundo dos crescidos. Seguros, carros, policia e consciência. A primeira vez foi assim. Desculpa Quovadis.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Black Swan. Black Day.

Não pude ficar indiferente. A força do diálogo e das imagens levou-me até mim. Naquele dia. “I was perfect”, segreda a Nina quando já nada mais havia a fazer. Foi exactamente essa busca pela perfeição que me destronou e me pôs à prova. O desejo de ser a única destruiu os sonhos e os laços Quebrou as barreiras da sensatez. O desespero pela perfeição foi demasiado grande para tamanho do erro. Sem medir os gestos e as angústias várias foram as vezes em que deixei cair o pano. Várias foram as vezes em que levantei o pano. Várias foram as vezes em que vi as personagens a entrar e a sair de cena. O palco já não era meu e não houve momento para pedir o papel para mim. Durante algumas cenas deixei que a inveja se apoderasse dos meus dias-a-dia com a perspicácia de quem só vê o final do túnel. Julguei que poderia algum dia jogar sem olhar a meios. Mas depressa percebi de que nada valeria a pena vestir o fato e subir a palco. As luzes da ribalta há muito que se tinham deixado apagar e não havia make-up que pudesse disfarçar as marcas deixadas pelo vazio. Consigo agora entender que a força das palavras não enfrentará nunca a força dos laços. A perfeição não existe. Existiu o eu e o tu, e isso nada tem de perfeito.