segunda-feira, 29 de agosto de 2005

Diagnóstico


O avião pareceu-me bem diferente de todos os outros que apanhei nas férias com o meu pai. Não era nem grande nem pequeno, nem novo nem velho, era apenas um avião normal da TAP. Mas era o avião que me levaria a Bruxelas, o destino mais esperado desde que soube que iria fazer o programa erasmus na Bélgica.Sozinha, no banco do avião, tudo pareceu diferente. Das outras vezes, o meu pensamento, apesar de inquieto, não me roubava a razão e não me levava para as profundezas da sensibilidade humana, como naquele dia me levou. As lágrimas não cessavam. Em que momento eu pensei que seria capaz de fazer isto? (e o estranho é que não me lembrar do momento em que pensei que não seria capaz…).As hospedeiras olhavam para mim, com aquele olhar de alguém que está simplesmente a trabalhar só mais um dia, e que eu serei apenas mais um nº nas listas, um passageiro a viajar sozinho a quem têm apenas de prestar a assistência necessária. Mas porque é que ninguém percebeu que eu estava a fazer uma das coisas mais importantes da minha vida? Eu estava a desesperar por um contacto, uma palavra de conforto que me fizesse sorrir ou simplesmente entender que tudo iria dar certo….mas só as lágrimas me caíam dos olhos, só o som do avião me chegava aos ouvidos.Foram duas horas e um quarto? Estranho… pareceram-me dois minutos, que passaram sem sequer me darem tempo para apertar o cinto do avião.
(...)
O meu quarto é no terceiro andar e depois de passar a primeira porta, encontro um corredor com 6 quartos, de um lado e do outro. Ao fundo do corredor é o quarto 309, o meu. Em frente é a cozinha, uma pequena casa-de-banho com um sanita apenas (!?) e outra pequena casa-de-banho, em frente, só com um poliban.0 309 é como os outros quartos que depois conheci: um lavatório, um guarda-vestidos, uma cama individual (sem lençóis!), uma secretária, um pequeno frigorífico e um pequeno sofá. A janela dá uma luminosidade sóbria. Pequeno, acolhedor, mas em mau estado. O candeeiro de tecto, não tem lâmpada. Está com pó e o chão, alcatifado, tem um ou dois insectos mortos, secos pelo tempo. Nada que me impressione, mas…é aqui que vou passar duas semanas? Sim, será apenas mais uma pequena aventura dentro desta grande experiência. Sendo um quarto provisório, só para os dias do curso, não podia esperara muito mais.
(...)
“E agora?”, pensei. Não tenho lençóis, nem cobertor. Estou sozinha num quarto, nada me é familiar, não conheço ninguém, nem a vila…qual será a primeira coisa a fazer? Tirei a camisola, arrumei a mala a um canto, olhei em volta e…saí. Dirigi-me ao centro para perguntar se ainda estariam aulas a decorrer. Mas já eram três e meia, por isso as aulas já tinham terminado. Mas havia uma concentração não muito grande de alunos à porta. Esperei que a secretaria abrisse e expliquei à rapariga que tinha acabado de chegar. “Vá Carolina, fala em francês, explica-te!” Cada frase forma-se de maneira bizarra na minha cabeça: faltam-me as palavras, as terminações dos verbos, as preposições…”em inglês, por favor”. Quando é que eu pensei que seria capaz de aprender o francês e “viver" em francês?
(...)
De volta ao meu quarto, a solidão apoderou-se do pequeno espaço e aliou-se ao silêncio para me deixar num estado simplesmente lastimável. As lágrimas eram grossas, pesadas e amargas…continuo sem lençóis, continuo sem saber como dizer isto ou aquilo, continuo sozinha num espaço estranho e grande demais para alguém na minha situação.

Foi assim no dia em que cheguei a Louvain-la-Neuve. Neste dia aprendi um grande lição: julgar que te conheces (e que te conheces como uma pessoa forte e independente) é mais subjectivo do que todas as abstrações possíveis de imaginar. Neste dia desiludi-me muito comigo mesma...perdi as forças que pensava que não perderia jamais!

Depois de duas três semanas, o discurso é completamente inverso...que posso dizer? Estou simplesmente a adorar...tenho imensa pensa de não poder ficar um ano. Muita pena mesmo..



Sem comentários: