Ontem adormeci atormentada. Sonhei não sei o quê que me irritou e a manhã chegou chata, a pedir para esticar os minutos até o alarme tocar. Quando a hora já estava a rebentar pelas costuras, enchi-me de coragem e enfrentei o ar frio de fora dos lençóis. De há dois ou três dias para cá, a temperatura tem descido a olhos vistos. Está frio.
Na hora que se seguiu interpretei o ritual que já é rotina. Engraçado, passaram-se apenas 16 dias que estou a morar sozinha e já existe hábito. Incrível como a vida nos desaponta assim, quando esperamos demais dela. Mas presumo que a normalidade da regra seja a base para haver variações. Senão tudo seria um caos. Ou não?
A água a escaldar aqueceu-me o sangue. Mas só isso. Continuei zangada com o frio, a manhã e os minutos a voar. Arreliei-me assim mesmo com o armário que me parece vazio de vaidade e com o cabelo que teima em se armar em esquisito. Meninices.
O autocarro deu-me lugar, mas nem assim consegui rejubilar. Que chatice. A viagem fez-se embrenhada nas inúmeras personagens de Garcia Marquez, com muito mais barulho de fundo que nos outros dias. Não consegui acabar o capítulo, como prefiro. Não importa.
No trabalho continuei a suplicar por dentro que não me dirigissem a palavra. É daqueles desejos meus. Uma defesa para não dar a entender a amargura aos outros. Eles não precisam de saber. Mas é mais forte que eu e - apesar das súplicas surdas - há sempre algum infeliz que leva com palavras carregadinhas de raiva, impaciência e teimosia. É o meu preço (de ser tagarela e efusiva o tempo - quase - todo). Depois dá nisto: balas secas em vez de palavras.
Hoje não me recomendo a ninguém. O melhor é vender mesmo. Não vá a desvalorização ser demasiado alta...
1 comentário:
Tenho a sorte de te ter como amiga e não há cá crise na banca ou de valores que me fizesse vender-te.
Há dias e dias miga... E não desvalorizas por isso :)
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