terça-feira, 11 de março de 2008

Não separe o homem o que Deus uniu.


" (...) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida."


Assisti a mais uma boda. A noiva atrasou-se uma hora, mais do que o previsto pela tradição. O vestido era branco, bordado com pequenas rosas vermelhas. O bouquet fazia padan. Assim como a rosa na lapela do noivo. No inicio da cerimónia escutou-se ao saxofone the Blowest Daughter, do Damien Rice, a música favorita da noiva.


"And so it is..."


A cerimónia pareceu simples, sem os grandes alaridos dos pais nervosos ou das crianças a choramingar ao fundo da igreja. O sacerdote parecia feliz com a união daqueles noivos. Proferia palavras bonitas e sinceras, votos de felecidade e fecundidade e perdão constante. O noivo apertava a mão da S. com força. Dali não a largaria nunca mais, lia-se nos seus olhos. Ela estava de olhos postos no altar e nas meninas das alianças.


Finalmente chegou a hora da confirmação e ambos disseram: " (...) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida." Seguido de "Recebe esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo."


A noiva chorou. De alegria creio. Provavelmente sonhou com aquele momento desde que o conheceu. Provavelmente já haveriam ensaiado aquelas palavras vezes sem conta. No jardim, na mesa do café ou num sussuro. Pensaram várias vezes naquele passo. Desenharam uma vida, uma casa e filhos, quem sabe. Pensamentos bonitos. Sonhos. No final da cerimónia...deram o primeiro beijo de casados. A noiva chorava. Ainda.


E eu também. Nunca fui muito lamechas neste tipo de coisas. Achava-me imune a este tipo de sentimentos cor de rosa. Não sei se chorei de alegria (pela S.) ou de tristeza. Sempre achei o casamento na igreja dispensável. Assim como o próprio casamento. Achava que a união e a paixão bastavam.


No entanto, repensei as palavras do sacerdote e revi-as. Começei a pensar que um dia seria capaz de dizer aquelas palavras perante uma audiência repleta de esperança. Achei que seria capaz de trocar uma aliança. Insanidade. Pude pensar num tecto a dois. E sonhar com um despertar entre duas almofadas.


(...)

Não separe o homem o que Deus uniu.


Dizem os crédulos.

1 comentário:

BettyBoop disse...

Nesta oração revi aquilo em que nunca acreditei e, descrito assim, pareceu-me tão simples...pura visão romântica, reflecti depois.
Às vezes faz falta sonhar desta forma mesmo: despidos de qualquer receio, preconceito, princípios ou regras.
Abaixo as convenções, porque na imaginação, vale tudo!
Um dia também nós "prometeremos ser fieis, amaremos e respeitaremos, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida". Em sonho ou não.