Talvez seja ousadia pensar que podem existir pessoas que não quero na minha vida. Aquelas das quais não queremos nem sequer ter o número de telefone ou saber onde moram. Talvez seja descabido pensar que podemos de alguma forma riscar da lista de memórias esta ou aquela personagem. Talvez seja, quem sabe, improvável a vontade de reescrever a história das nossas vidas ou até o final desta ou daquele episódio.
O certo é que essas pessoas existem. Ou não deviam sequer existir. Temo haver duas ou três na minha história. Queria de alguma forma poder apagar o nome das recordações ou o rancor que deixaram ficar. Queria poder apagar o cheiro que deixaram na minha casa, as palavras escritas nos cadernos da escola ou até as fotografias penduradas no placard. Queria pedir ao vento que levasse tudo para lado nenhum e que não trouxesse notícias. Não queria sequer pensar que um dia abri a porta e deixei passar um sorriso ou uma palavra doce.
Julgo que quando crescemos a lista de indesejáveis aumenta. Ou pelo menos a tendência é encaixar os demais (ou a mais) nesta lista de "Inúteis para crescer". Talvez seja mesmo esta definição correcta - inúteis.
O pensamento parece-me lógico, quando penso nas pessoas que não quero na minha vida. Não são muitas, porque o rancor ocupa demasiado espaço no coração. Mas das que ficaram nesse iceberg, o voto é unânime: não quero. Não quero nem ouvir a voz. Não quero ter o nr. ou saber por onde andam. Prefiro julgá-las perdidas. E de preferência que eu tenha de alguma forma contribuído para essa perda. Que tenha perdido a direcção ou o alento.
Tudo é tão mais fácil quando inventamos categorias para quem não temos a certeza do que sentimos.
Sem comentários:
Enviar um comentário