Sempre a olhei com carinho até no dia em que quase lhe espetei a mão na cara, por uma birra de adolescentes apaixonadas. Era a minha amiga das "Moitas", ainda hoje é. Começámos este "namoro" ainda ela morava no centro da vila, numa casa com paredes forradas a papel garrido. Tinha um beliche e vestia o 32. O cabelo era farto e indomável, queixava-se de não conseguir fazer nada com ele. Usava e usa All Star. Sempre foi uma miuda de ideias, forçada a crescer pela vida. A mãe fazia deliciosas tartes de amêndoa nos finais de tarde de escola e o pai separou-a de mim aquando a ida para o secundário. Não me esqueço. Trocámos de escola, namorados, números de telefone e morada.
Desde cedo trocámos valores. Encadernávamos juntas livros de escola para ganhar uns trocos para nada. Os amigos do secundário, esses, perderam-se no tempo e não restaram amizades em comum. Conheci-lhe histórias difíceis, lutas para as quais não podia contribuir a não ser com a minha presença muito de vez em quando. Separações, distâncias à parte. NUNCA nos separámos. De tempos a tempos fazíamos updates. Crescemos a comprar roupas diferentes, ela porque finalmente passou a vestir o 34 e eu porque gosto de ter 1001 coisas dentro do armário. Ela detesta cetim e roxo. E eu continuo a mostrar-lhe as roupas estranhas que acabei de comprar! Rimos sempre. Com as piadas dos outros e com as nossas memórias.
Hoje estou tão feliz por ela que me apeteceu partilhar. E escrever algumas linhas sobre esta amizade que nunca deixámos cair. Crescemos, é certo. E connosco esta magia que o tempo não desvendou. Ela continua a acreditar na Sininho. E que na Wendy. Talvez tenham sido os sonhos que nos tenham trazido até aqui. A esta terra onde a amizade nunca acaba.
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