(Foto by Betty-Boop)
Lisboa, Barcelona, Bilbao, Bélgica, Lisboa, Aqui, Ali, Hoje, Ontem, Amanhã, Mar, Porto, Madrid, Mundo, Amigas, Estórias, Moda.
Hoje oiço toda a gente nos corredores a dizer - "estou como o tempo". Embora a expressão não me assente como uma luva, também eu hoje me sinto assim. Sinto-me cinzenta como o céu e inconstante como o vento. Por dentro, caem pingos de chuva, a saudade. As raízes estão molhadas e não aceito mais água. Começam a aparecer as primeiras cheias deste Inverno, até aqui seco e solarengo. Já não me lembrava como eram estes dias soturnos, escuros e vagos. Já não me lembrava como sabiam bem os pés quentes e o coração aquecido. 
Acho que ainda não consegui entender bem porque é que as pessoas dão as mãos. Aliás porque é que os namorados dão as mãos. Porque é que dar a mão significa cumplicidade e amor. Porque é que a minha mão na tua pode querer dizer "para sempre". E por isso tenho medo de te dar a mão. Porque há quem diga que "mão na mão" é sinal de paixão. E que os dedos entrelaçados inspiram histórias de romance a poetas e sonhadores. E por isso tenho medo de te abraçar e passar-te a mão pelo rosto. Porque há quem diga que depois de um olhar eterno, há sempre um dar as mãos.
O Outono chegou ontem. E eu sinto-me como uma árvore de folha caduca. Deixo a areia da praia no chinelo, o cheiro a sol na gaveta e o doce do gelado de chocolate no canto da mesa. Da Primavera, guardo as flores violeta e o aroma a maçã. O Outono traz-me a melodia das folhas a namorar a terra e o sabor a castanhas e vinho do Porto. As folhas caem e com elas as memórias de um Verão pouco quente. Este Outono começou entre os lençóis e com a recordação dos tempos em que o vento enchia de folhas as bermas daquela avenida.
Não sei muito bem o que fazer quando o perfume se acaba. Com o tempo habituamo-nos àquele cheiro e ao aroma na pele. O meu perfume cheira a primavera. A flores do campo e a felicidade. Cheira ao voar das borboletas e ao verde dos malmequeres. Cheira a nuvens. E a sol. E é com ele que começo o dia. A cheirar a sol e a luz. Mas já estou nas últimas gotas desta poção mágica. A força da fragância já não é tão forte e com ela desaparecem as imagens a cores.
Não tenho dúvidas de que assim é. A liberdade é imparável e destruidora. Com ela chegam as dúvidas e os desatinos. Com ela surgem as inoportunidades e os acasos. E graças à liberdade sou quem nunca fui e apareço onde nunca estive. Não me agarro nem me deixo prender. Posso experimentar diferentes sabores e criar diferentes histórias. Inventar personagens com finais felizes e casinhas de chocolate. Posso dizer que "sim" ou que "não" quando me apetece e, sem mais, deixar fugir por entre os dedos a areia de uma praia só. Posso até construir castelos e fazer-me passar por fada. Posso vestir preto, roxo ou castanho, sem perguntar ao olhar. Assim é bem mais fácil e, graças à liberdade imparável das coisas, deito fora os difíceis e jogo com os impossíveis. E é tão melhor assim.
Decidi que tinha de ser. Que tinha de ser ali e porque sim. Queria saber do destino e dos porquês. Estendi a mão à leitura. E quis saber se seria sempre assim. Estendi a mão à senhora das fantasias e dos medos. Dei-lhe a ler os olhos e o olhar perdido. Queria saber o que diziam as cartas e o que significavam todos aqueles sinais. Queria saber o que eram as coincidências e os ditados. 