É-me comum esta sensação de mão vazia e areia a escapar por entre os dedos.
Entro no supermercado e quero aquelas bolachas que havía visto no anúncio de televisão, ontem à noite..."não temos menina, ainda não recebemos". Saio com as expectativas goradas por um não que veio de trás da caixa registora.
Ao caminhar para casa, o cheiro a fruta fesca enche-me a memória de odores que um dia colhi no campo. Quero um pêssego, de roer o caroço. "Não, estes são carecas e larga caroço". Queria um pêssego.
Já em casa, oiço a música de outrora e desejo comprar o cd. Há muito que não compro um cd. Procuro na net. "Não disponível".
Sinto um grão de areia entre os dedos dos pés e quero terminar o meu dia na esplanada de uma praia na marginal. A rádio que toca na janela do vizinho soa a "trânsito intenso na 24 de Julho. Acessos à A5 condicionados, devido a um corte na faixa da esquerda".
Sento-me no sofá a ler aquele livro que há muito folheio. Estendo as pernas sobre a mesa de apoio à preguiça e olho-me no reflexo revelado no ecrã da televisão apagada. Abro um pouco a janela. Cheira quase a verão.
Toca o telemóvel e desejava ler o teu nome no ecrã. Uma mensagem. Uma mensagem bem clara. A luz que passou por entre a leveza das cortinas, bateu no ecrã e deixei de ver a minha imagem reflectida na TV. Melhor assim.
Pousei o telefone. Travei uma gota de saliva e passei as mãos pelo rosto. Li demasiado bem.
Consegui encontrar a resposta. Agora já percebo o mote. Agora sim, sinto o perder sem nunca ter tido. Sinto a água na boca, por um beijo que nunca roubei. Sinto a falta daquela voz profunda a ecoar por entre os meus sonhos e daquelas mãos queimadas pelo sol. Nunca tive. Não vou ter. Julguei ter tido. O doce dos biscoitos, o aroma a pêssego, a melodia suave, o cheiro a mar eras tu. Perdido, nunca tido, jamais achado.
1 comentário:
O que se julgou ter, acabando por perceber que nunca esteve ali contigo, e superficial. A essencia deve ser vista pelo momento e so apenas nessa divisao de tempo. Porem, se e o sofrimento que tentamos evitar (e a felicidade que corremos para alcancar), esquece as reflexoes do passado e as conjecturas de um futuro mal desenhado...o presente quase nunca e amargo quando nao o cruzas com o passado e o fututo. O presente e sempre bom: como a brisa do vento a irricar te os pelos dos bracos, o sol a fazer te sardas, as gotas da chuva a tocar te nos cabelos rebeldes. O presente dos sentidos - podendo estes ser enganadores - e sempre bom, fresco e puro. E faz sorrir...
Boa viagem a Amesterdao, Estrelinha. Beijo daqueles nossos mua
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