"Tenho saudades tuas". Estas palavras chegaram-me hoje como uma doce brisa que me acarinhou a face, um aconchego que me acalentou a alma. Avivou recordações para onde viajei de sorriso às costas e saudade ao colo. Caíram-me, suavemente, em cima, sem aviso e com uma espontaneidade perfeita. Há muito tempo que não me diziam tal deixa.
Sinto-me só, não sozinha. Sinto falta de partilhar o coração e de dar a mão numa caminhada. Sinto falta de dividir um pedaço de bolo, uma mesa de restaurante ou um banco de jardim. Faz-me falta olhar nos olhos, ver uma cascata por descobrir no fundo de um olhar. Precisava de dizer "tenho saudades tuas".
Sempre que o sopro do medo me acaricia os ouvidos, rebato com a teoria da dúvida. Coloco o "se" na maior parte dos raciocínios e tento não me prolongar na questão do "quando". A dificuldade é parar de pensar e deixar rolar o tempo na sua lentidão. Existe sempre a ânsia de viver mais, sentir mais fundo, chegar onde nunca pensei chegar e conhecer o que jamais ousei imaginar!
É incontrolável esta insatisfação. E angustiante. Pesa-me nos ombros e deprimi-me. Uma fase má, diriam os pessimistas. Ou uma fase menos boa, precisariam os optimistas. Um estado meio febril, meio anestesiado, diria eu. Nestes dias só o profundo me faz sentido e me inspira para discorrer sobre o meu interior. O superficial cala-me e faz-me sentir deslocada.
Por isso talvez a frase que hoje me fez sorrir por dentro marcou tanto a diferença. Contornou tanto as minhas formas. Mesmo aludindo a um passado resolvido, terno e demasiado adormecido.
Hoje vivo de recordações. Como que mergulhada num mar opressor, mas com o oxigénio suficiente para respirar. Sinto-me peixe com memória, sereia sem cauda.
Falta-me agarrar mais vezes o futuro. Gostava de ouvir um "bleu de toi".
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