quarta-feira, 7 de novembro de 2007

-poca-terra-

Adoro andar de comboio. É o meio de transporte público que eu mais gosto de utilizar e que utilizo mais vezes. Vou todos os dias de comboio para o trabalho. No passado fim-de-semana fui para o Porto, de comboio. Uma viagem de pouco mais de duas horas e meia, onde li, dormi, ouvi música, comi, acompanhei a paisagem que se perdia de vista e pensei. Fartei-me de pensar. Pensei no primeiro campeonato de Vela que ia assistir (no porto de Matosinhos), nas pessoas novas que vou passar a conhecer neste mundo tão diferente e que julguei tão longe, nas expectativas dos novos chefes, nas saudades da Nês que fugiu para a Invicta (abraçar um novo desafio). Pensei em como será voltar a trabalhar com a Luzinhas de perto - e partilhar com ela um novo objectivo, no próximo jantar das amigas, na Laura e em como ela tem tido azar este ano, na mana da Laura. Claro que também pensei na minha casa nova e nas prateleiras que quero colocar na casa das máquinas, nas toalhas que quero ir ver à loja que está em promoções no Colombo e no sofá que nunca mais chega.

Enquanto pensava, com a música ora do Papas na Língua ora da Sara Tavares a mergulhar-me pelos ouvidos, passeava os olhos pelos passageiros e tentava adivinhar-lhes a alma. Que perguntas estariam a conjurar? Que desejos, sonhos e medos esconderiam?

Abandonei o presente da janela ao fechar os olhos. Os balanços do comboio funcionam como uma chupeta, chamam o sono tão rápido que nem nos apercebemos. Fui logo parar a Barcelona, para junto das personagens de A Sombra e o Vento. Mas não por muito tempo. "Próxima estação: Porto-Campanhã". Era a minha deixa...

Na viagem de volta repeti o roteiro. Li, pensei, ouvi música, viajei pelos rostos desconhecidos e divaguei por sonhos, desejos, medos e frustrações. Uma viagem em que não dividi o par de bancos e, talvez por isso, me fez sentir um pouco sozinha. Já disse que adoro estar rodeada de estranhos? É nesses momentos que me sinto mais acompanhada e desfruto melhor o meu próprio espaço. É também isso que uma viagem de comboio me oferece: o vazio prazenteiro de estar centrada em mim e numa espécie de transe, a voar.

Também adoro estações de comboio, mas detesto o hall dos aeroportos. As energias são totalmente diferentes nos dois sítios, apesar de serem ambos locais de partidas/chegadas, encontros/despedidas. O aeroporto arrepia-me, beargh (e não é pelo medo de andar de avião, que esse não me chega). A estação acalma-me. E anima-me, julgo. Estou deserta para que reabram a estação do Rossio, é uma das minhas favoritas. Faz-me lembrar um pouco a estação de comboios da Antuérpia, na Bélgica, mas mais pequena (e mais bonita!).

O que me deixa triste é que vou deixar de andar de comboio todos os dias para ir para o trabalho...mas é por uma muito boa causa!

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