sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Tonta.


Significado. Tem de haver um. Sempre. Senão a vida esvai-se em vapor e é sugada pelos ralos que estão espalhados no mundo, na sociedade. Não falo de significado para viver. Mas do significado da vida, não enquanto contrário de morte, antes como motor do corpo que movemos, combustível do cérebro que carregamos e essência daquilo que nos faz ser humanos. Respirar não basta. Não me basta. E, no entanto, dou por mim muitas vezes a passar os dias nesses estádio anestesiado - e anestesiante. É como ter asas e não querer voar. Fico presa aos mecanismos básicos de sobrevivência. Existe algo mais fútil?

Preciso de lutar por aquilo que vale a pena. Por mim. Para mim. No outro dia dei comigo a pensar, de nariz encostado ao vidro do 727, que há muito deixei de pensar no objectivo que me faz acordar todos os dias de manhã e querer aproveitar todos os minutos com sede de experimentar, observar, aprender e saborear, como acontecia num antes que agora não sei precisar. Preciso questionar o significado desta vida adulta, no OJE, e da profissão de jornalista. Às tantas pergunto: onde estou? para onde vou? e, sobretudo, para quê?

Afinal, o que estou eu a dar de mim naquilo que faço todos os dias? Nada, concluo. E as razões fazem fila, lideradas pela motivação. A mais fácil de ir resgatar ao molho. Falta-me paixão. Aquela que nos faz mover nos mais duros trilhos e encruzilhadas. É a maior força de um profissional, julgo. A paixão. É essa a mais-valia.

Já pensei que estou na área errada. Que não fui feita para o jornalismo. Ou que o jornalismo não foi feito para mim. Já pensei que sou má jornalista. E que nem sequer sou uma peça importante no jogo. Deve ser isto a que chamam desilusão. Custa-me sempre dizer esta palavra, porque a verdade é que não sou pessoa de criar grandes expectativas. Até levei bastante a sério o que disse o professor Nelson Traquina na primeira aula de Teoria da Notícias: "o jornalismo não é o que vocês pensam. Não é cor-de-rosa. Esqueçam esse romantismo", ou algo deste género. Foi a esta ideia que me agarrei. Mas parece que não bastou. Ou então, iludi-me a mim mesma. Falta-me encontrar o tal significado. A ignição está algures aí. Eu sei. Sinto que não pode ser apenas isto. Há algo mais. Tem de haver.

Em tom de desabafo, fazia eu hoje este mesmo discurso à pessoa que mais me tem inspirado na profissão, e de repente percebi. Estava a fazer tudo mal. Procurava no sítio errado. Entrei numa cegueira tal que me impediu de ver o óbvio e me fez esquecer o que já nascemos a aprender.

A busca é interior. Tem de partir de dentro. De mim. Para mim. Como pude arquivar este trunfo que é tão valioso e instintivo ao mesmo tempo? Agora que me lembro, aconselhei vários amigos e amigas a fazer sempre isto, a seguir sempre esta via: a interior. Como no budismo. Tudo o que queremos alcançar, está dentro de nós - nós somos a chave, o caminho e a solução.

Nunca poderei encontrar a paixão no exterior, nos outros. Nos seus elogios e palavras de coragem. Não, se não a tiver encontrado já em mim. É aqui que tenho falhado. Que tonta.

Afinal a desilusão é minha. É comigo. É tão mais fácil culpar os outros que nem sequer paramos um pouco para analisar o raciocínio. Caímos sempre na rasteira de passar a bola para o outro lado, onde não nos podem responsabilizar.

Perdi-me neste caminho. Se calhar até sou boa jornalista (profissional, como alguém me lembrou). E talvez o jornalismo seja mesmo a profissão pela qual me apaixonei. Só preciso de encontrar isso dentro de mim. Confiar em mim e acreditar que vale a pena lutar. Por mim.
Que tonta!

2 comentários:

Anónimo disse...

olá linda...
Desculpa a "invasão"
Só te kero dizer, em primeiro lugar, que tou cheio de saudades tuas.
Depois, achei este teu texto um pouco comovente. Não tens de te desiludir. O jornalismo pode ser mesmo cor de rosa como sempre pensaste que era, só tens de procurar bem essa face. Não te deixes embalar nessa escuridão, e luta por todos akeles ideiais com que sempre sonhaste.
Beijo grande.

Anónimo disse...

o mundo é dos tontos e dos romanticos, dos q se batem ou q se ficam por ideais, o mundo é dos fieis. é teu se o tiveres dentro de ti, e tu tens.. de resto concordo contigo!
bjo