sexta-feira, 4 de novembro de 2011

É pior.

Os ódios de estimação crescem como os outros, ou talvez um bocadinho mais. Vão amadurecendo com o tempo e comem-nos a cada dia que passa. Tenho poucos, é certo. Mas existem. Há dias em que de tão maduros que estão, quase que nos sufocam e atravessam o corpo. A mim dá-me para engolir a seco e pedir com todas as minhas forças que desapareça depressa. Faz-me comichão debaixo da língua e um ligeiro ardor na ponto dos dedos. Fico calada com medo que me saia o temperamento hostil e começo a bater o pé. Os ódios de estimação são assim mesmo, de estimação. Porque os alimentamos e deixamos que se arrastem. Com ironia e desapego. Com a esperança de que no outro dia já não morem aqui. Os ódios de estimação não cabem em mim e por isso mesmo às vezes levo-os para casa. E é pior. Muito pior.