domingo, 21 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

2 anos.

Na minha casa haverá sempre sol. 2 anos. Feliz.

A J.

A vida deixou a J. Acho que fiquei incomodada com a notícia e talvez por isso a almofada não me deixa dormir. Cruzei-me com ela duas ou três vezes entre amigos. Sabia onde morava, mas nunca a fui visitar. Morava aqui ao lado. A hipertensão pulmonar pareceu-me coisa séria e a coragem com que levou o problema a avante deixou-me pequenina. Nos dias em que ousava acordar mal com a vida, os problemas da J. e do A. serviam-me de limite. Todos os meus problemas me pareciam insignificantes e desprezíves. Ter a vida presa por um sopro, isso sim é motivo de alarme. Muitas vezes falei neles ao mundo, em quanto o seu amor era genuíno e em quão precioso era o olhar que trocavam em momentos mais difíceis. Encarei a sua entrega como exemplo. Quem não tem medo de morrer, não tem medo de nada, pensava eu. A J. não podia dar um passo. Não podia apanhar nem frio, nem calor. Era frágil, mas tão forte.
Mudaram de cidade na esperança de uma opinião melhor. Foram até à minha cidade. Cruzei-me com eles na passagem de ano. Moravam no final daquela rua das escadas que nunca mais acabam. Cheguei a imaginar que um dia a J. ia conseguir subir aquelas escadas de uma vez só. Mas não. A minha cidade não chegava para ela. E ela parecia precisar de tão pouco. Achei, erradamente, que a minha cidade tinha tudo. Mas não. Não tinha nem um coração, nem um pulmão para a J. Afinal Barcelona não é cidade encantada.
Resistiram. À distância, à saudade e à solidão. Soube, no último dia do ano, que tinha os melhores vizinhos do mundo. Que o seu gesto era inigualável e esperei que a sopa da R. trouxesse um sorriso à J. Já que o A. se contentou com uma Fanta Laranja.
Mais uma vez me senti pequenina. E tão inútil. A vida parecia valer tão pouco. O esforço com que levou todos estes dias foi uma verdadeira quimera. O A. foi incansável. Queria dizer-lhe, um dia quando voltar à casa aqui do lado, que não perdeu esta guerra. Queria dizer-lhe que a sua maior conquista foi o amor. E que tudo vai ficar bem. Embora já lhe houvessem roubado outro tesouro em tempos, na véspera do dia mais feliz da vida dos mortais apaixonados. Mas a vida é talvez a mais injusta das realidades, A.
Mas tu foste um lutador e a J. uma conquistadora.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O meu sofá.

O meu sofá tem segredos. Hoje tirei o domingo para escutá-los, como há muito não fazia. Dei algumas horas do dia, que hoje pareceu eterno, às confissões da almofada. Permiti-me enrolar-me na mantinha de inverno e deixei que o sol se pusesse do outro lado da Ponte.

Adormeci ontem com o bater das ondas na Marginal e acordei hoje com as nuvens a cobrir a praia. Rendi-me ao zapping bem cedo. Desde o "Bom dia" aos "Ídolos", vi tudo quanto era filme de uma estrela e deliciei-me com uma chávena quente de cappucino e duas torradas a meio da tarde.

O telefone não tocou e os mails apenas me roubaram alguns minutos. Acho que a noite bem dormida se sobrepôs ao stress. De vez em quando espreitei à janela e ao facebook. Para ver a vida dos vizinhos e dos amigos.

Confesso que ainda pensei sair de casa, mas a manta de inverno não deixou. O sofá lembrou-me o quão bom é ter os pés quentes. Tirei o dia para mim. Fiz máscaras, cozinhei e ouvi música. Ainda tentei folhear um livro, mas o joão pestana chegou mais depressa e levou-me à sesta. Que bom foi fazer a sesta! O título do livro em catalão e o fechar dos olhos a meio da tarde trouxeram-me Barcelona. Mas o sol tímido e os pingos de chuva apagaram as memórias.

O meu sofá tem segredos. Hoje ouvi aquilo que já não me lembrava. Que adoro morar aqui e que adoro os domingos de pijama no meu "cantinho de uma coisa só".

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Porque não.

Lembro-me de quanto odiava quando o meu pai me respondia "porque não". A resposta era apenas isto, sem mais rodeios. Nas primeiras vezes, ainda resmungava e respondia "porque não, não é resposta". Ainda eu acreditava que não. Começei a entender que o "porque não" não tinha valor nenhum. Que era um sim disfarçado. Uma confusão, na altura em que ainda lhe dava pela cintura e a bengala da minha bisavó completava o meu metro e picos.
As conversas sempre acabavam ali. E àquele assunto já não se voltava nunca. O tempo trouxe o respeito pelas decisões e o "porque não" desapareceu.
Hoje, com mais do que um metro e picos, sou eu que repito "porque não", mais do que vezes em conta. E sai-me quando não sei o que dizer, quando o sim já é claro, depois de me ter dado as voltas suficientes à cabeça. Hoje é dia de "porque não".