quinta-feira, 27 de março de 2008

Quando se quer dizer "nada"


O caminho para casa foi quase doloroso. Custou-me acreditar que por entre tanta sinceridade não sobrou nem um espaço para uma última palavra sincera. Voltei as costas com a convicção de que tinha feito o correcto. Baixei os olhos por entre a vontade de dizer "não vás" e susurrei "não desapareças".

O sítio era estranho e pleno de histórias vagabundas. Esta seria mais uma. Um entra e sai que não merece sequer uma linha, depois de tanto despojamento. Creio que não há politicamente correcto aqui. Nem tempo para pensar se foi bem ou mal dito. Escrevi, entre as linhas da Rua dos Duques de Bragança, uma história mal contada. Sem personagem principal ou didascálias. Poderia ter escrito:
- E A., num tom inseguro disse: "Reescrevo a tua mensagem. A mim também."

O silêncio marcado pelo andamento dos tacões gastos pela calçada respondeu por mim. Afinal somos todos cobardes, quando ousamos pensar o que realmente queremos para nós. Somos todos "okupas" uns dos outros, sem pedir licença. Queria ter pedido licença para me chegar ligeiramente para lá. Achei melhor não. Deixei-me ficar a contemplar com descrédito a minha inércia e razão.

Parece que cresci de repente. As palavras ordeiras ganharam-me. O sorriso opaco também. É tão mais fácil assim. Quando se quer dizer mil uma coisas e só nos sai um "nada, deixa estar".

E parece que, de repente, tropeço numa pedra.

terça-feira, 25 de março de 2008

Um outro som.

"O barulho das tuas botas irrita-me profundamente", diz em tom de brincadeira com seriedade no rosto. Dói-me as bochechas de tanto rir, confessa. Nada de mais para dizer, nada de mais explicar, nada de mais para esconder. É desconcertado, desatilado (como dizem as avós) e um quê de charmoso. Rio-me, só de pensar no ar de génio. Na mala traz um encantador de serpentes, um ladrão de almas e algumas notas soltas. É diferente dos demais porque acorda demasiado cedo para fazer o que os outros não gostam e fá-lo com um gosto tão imenso que chega a meter inveja. Não lhe sobra tempo para ler, escrever ou reflectir.
Corrói-se com as amarguras dos hipócritas e pela atitude sobranceira dos outros. Cheira a palcos e a fama. Sabe a campo(s) e a inocência. Tem um toque de delicadeza escondido pelos desatinos interiores. Parece fácil de entender, à vista desarmada. Há até quem diga que "não vai durar para sempre". Alma de prodígio.
Encanta-se com a vida, as paisagens e os sabores. Encanta-se com o sorriso, com as estrelas e os sons. Sonha com uma procura infinita. Com um "nunca mais acaba". Tem semblante de anjo de outro planeta. Dizem os que o conhecem que "mudou bastante".
Encontrámo-nos entre um doce da avó. Entre um aroma a café e um travo demasiado doce. Entre um olhar escondido por detrás da cobardia.
Um convite para um chá, café ou laranjada. E uma conversa agradável, por entre uma companhia interessante. Um outro som, pensei.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Egoísta.


Enquanto aguardo, sem egoísmos, o final deste dia que nunca mais chega, penso. O relógio, egoísta, marca o tempo, bem devagarinho e a hora de saída tarda em chegar. Lá fora, o dia lusco fusco promete uma noite fresca e plena de maresia. O sol, egoísta, brilha por entre as nuvens densas de chuva por cair. O rádio, não soa a nada em concreto. E na minha cabeça passa a letra daquela música nova da Rihanna. Gosto tanto. Mas até a letra é egoista, "I hate that i love you...".

Sem querer lanço os pensamentos pela janela e sem dar por isso recosto-me no teu colo. Penso vezes sem conta se é o mais certo Se estou a desenhar com o lápis adequado ou até se o desenho ficará bem pendurado na minha parede. Penso nas cores que quero. E os tons pastel parecem-me os melhores. Nem sim, nem não. Pastel. Há muito que deixei as cores choque. Prefiro as cores egoístas, que não ficam bem nem mal. Que, sem querer, transformam o agitado em calmaria.


Os pensamentos continuam no teu colo. Nem me atrevo a sussurar-te o que penso. Guardo, sem memória, os pensamentos. Os meus. Não quero partilhar contigo o que não sei. Não quero construir contigo o que não tenho. Um desabafo, como tantos outros.


Penso a medo e com o rótulo de egoísta a travar-me os sonhos. Custa-me acreditar que a vida me trocou as voltas, sem pedir licença. E que me rouba o sorriso sem pedir, "por favor".


De tempos a tempos, reinvento-me. Ora fico triste, ora rio à gargalhada, ora me escondo, ora te dou a mão. Ainda não encontrei o sítio e a maneira certos. Não sei se me sento ao teu lado, ou em frente. Não sei vou sózinha ou se te convido. Não sei se telefono, ou mando uma mensagem. Não sei se apago a mensagem ou se guardo paracomo lida. Aprendi a não guardar recordações. Com facilidade se deita fora uma paixão. Aprendi. "Não vale deitar no ecoponto", pensava eu na brincadeira. Não sei se escolho o vestido ou as calças de ganga que me dão o tal ar selvagem. Nem se ponho o risco preto nos olhos ou não. Olho me ao espelho e é cada vez mais dificil perceber se gosto ou não.


Mais um dia não, penso enquanto pego na mala para sair de casa. Quando fecho a porta, verifico se dei todas as voltas à chave. E assim como fecho a porta, fecho o coração a sete chaves. Não deixo que ninguém perceba o ritmo a que bate e, muito menos, se bate.


"Quando queres, és tão fria!, diz a L.. Gelam-me os sentimentos e os anseios. Polvilho de neve e cubro de gelo os gestos carinhosos. Escondo, por detrás do iceberg, o "sim". E no meio da avalanche, vou levando quem não quero. Egoísta?


Não pedi a ninguém para procurar comigo a agulha no meio do palheiro.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Quando o sol brilha!


Acordei com o sol a bater-me na cara...soube bem este despertar. Pensei duas vezes "será que adomeci?" a hora estava certa. Tinha sonhado com alguma coisa importante. Não me recordava com seriedade, mas acordei bem disposta.

Depois de uma semana repleta de contra tempos, fazia-me falta um momento só para mim. Deixei que a água quente do duche me lavasse a memória destes últimos dias. Tomei o pequeno almoço com o sol a entrar por entre as brechas da janela. E pensei "adoro a minha casa".

Que egoísta! Penso mais uma vez se fiz a escolha certa, se a racha na parede não vai abrir mais, se o elevador vai ser arranjado em breve, se o silicone não vai saltar. Sei lá. É a minha casa. Com as minhas cores e as minhas texturas.

Enquanto esperava pela assistência técnica da Balay, que em dois tempos pos o forno a funcionar, aproveitei para espreguiçar o corpo. E limpar o pó com cheiro ainda a novo. Lá fora sussurava o ruído do comboio. Já me habituei. E nas escadas do prédio descia a vizinha que sai de casa religiosamenteàs 8h1O.

Quando já reclamava o atraso da assistência, o sr. chegou.
(...)

Ontem perdi o saco das compras. "Deus nosso Senhor castiga", dizia a minha mãe. Fiquei tão trsite e com tantos remorsos. Não devia ter comprado. Eu sabia. Eu e L. corremos tudo. E nada. As pessoas são, de facto, más, pensei. Nos perdidos e achados, nem sinal.

"Area Store, bom dia", diziam do outro lado da linha hoje pela manhã. "Sim, está com sorte, está aqui!".

Parece que a semana começa a recompor-se. Forno arranjado. Saco encontrado.

E um sol imenso a entrar-me pela janela e pelo sorriso adentro.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Longe daqui. Contigo.

Foto:VanessaCapela/LeCool
Hoje não me apetecia estar aqui. Privada de ar puro e esborrachada contra um monitor.
A mente é a única que consegue libertar-se do mofo que empesta as tarefas do dia-a-dia e sai sorrateiramente para longe. Um voo alto e certeiro, em busca de portas (mais) abertas e arejadas.

Hoje apetecia-me ir buscar-te de carro e, de vidros abertos, seguir para o Algarve. Sim, o Algarve. Acho que hoje está um dia de Algarve. Absolutamente. Metíamo-nos na A2 a só parávamos se a fome apertasse. Depois, a casa de Vilamoura receber-nos-ia de varanda aberta.

Imagino uma toalha de praia torrada pelo sol, uma mesa de esplanada rodeada de cadeiras com almofadas e um grande chapéu-de-sol. À frente, um prato de caracóis e as bebidas geladinhas. Veríamos o mar de longe, que ainda está frio para mergulhos, e sonharíamos em silêncio os nossos novos desejos. Os medos, esses, por ora não existem. Tanto melhor.

Seriamos um dois-em-um, como tanto gostamos. Perderíamos a noção do tempo (do nosso tempo), daríamos as mãos - quentes - e, de óculos-de-sol na cara, eternizávamos o pôr-do-sol à nossa maneira.

Ali juraríamos que a história não se haverá de repetir. Pelo menos não como antigamente. E, de olhos postos um no outro, sorriríamos por saber que assim será. Se nós quisermos (muito).

terça-feira, 11 de março de 2008


Fiz anos... Fiz anos e dei uma festa, como sempre... E, como todos os anos, quis juntar amigos e família.

E poucas vezes esta festa fez tanto sentido.
Almoços de família, estarmos juntos todos os fds, partilhar coisas da vida, vivências, experiências, rir e aproveitar o mais possível juntos... Isto é "pão nosso de cada dia" na minha família. Almoços e jantares das amigas, saídas para abanar o corpo, possibilidade de estar com elas quase todos os dias. Juntar-me com o pessoal. Rir e esparvalhar, ter momentos (mais) sérios.
Agora vejo me tão pouco nestes momentos. Os fds são sempre a correr e passam sempre a correr. Estar com os amigos tornou-se um luxo que eu achava adquirido, mas que já se mostrou bem escorregadio. As oportunidades são poucas e escapam-se das mãos se não tiver o pulso firme.

E eis que chega a oportunidade. O Marco enfrentou cmigo a viagem de duas horas, os meus pais prepararam as coisas como lhes pedi, embora a mãe se tenha excedido, como quase sempre.
A família foi chegando primeiro, as amigas chegaram pouco depois. Os amigos vieram a seguir. Não estavam todos é certo, senti a falta de pessoas mto importantes, mas soube bem. Conseguir reunir tanta gente cmigo nos dias que correm não é tarefa fácil. E talvez por isso, esta festa tenha tido um sabor especial. Tive (quase) todos aqueles de quem mais gosto cmigo. Pensei nos que não estavam e achei cm seria bom estarem. Mas logo alguém me arranca um sorriso. O dia era de festa.
As prendas (lindas) foram pa mim aplicadas na casa.
"Vida de grande", digo eu vezes sem conta, "é o que temos agora". Adoro receber o meu dinheiro, ter a minha casa (alugada mas vale na mesma), ser (um bocadinho) dona do meu nariz e, quem sabe, "assentar" na vida. Mas lamento a distância, a falta de diálogo e de confidências que ela gera, os fds pequenos demais para alguma coisa coisa, quanto mais para tudo.
E por isso, esta festa de 24 aninhos teve um sabor especial. Porque vos tive, de uma forma ou de outra.

Não separe o homem o que Deus uniu.


" (...) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida."


Assisti a mais uma boda. A noiva atrasou-se uma hora, mais do que o previsto pela tradição. O vestido era branco, bordado com pequenas rosas vermelhas. O bouquet fazia padan. Assim como a rosa na lapela do noivo. No inicio da cerimónia escutou-se ao saxofone the Blowest Daughter, do Damien Rice, a música favorita da noiva.


"And so it is..."


A cerimónia pareceu simples, sem os grandes alaridos dos pais nervosos ou das crianças a choramingar ao fundo da igreja. O sacerdote parecia feliz com a união daqueles noivos. Proferia palavras bonitas e sinceras, votos de felecidade e fecundidade e perdão constante. O noivo apertava a mão da S. com força. Dali não a largaria nunca mais, lia-se nos seus olhos. Ela estava de olhos postos no altar e nas meninas das alianças.


Finalmente chegou a hora da confirmação e ambos disseram: " (...) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida." Seguido de "Recebe esta aliança como sinal do meu amor e da minha fidelidade. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo."


A noiva chorou. De alegria creio. Provavelmente sonhou com aquele momento desde que o conheceu. Provavelmente já haveriam ensaiado aquelas palavras vezes sem conta. No jardim, na mesa do café ou num sussuro. Pensaram várias vezes naquele passo. Desenharam uma vida, uma casa e filhos, quem sabe. Pensamentos bonitos. Sonhos. No final da cerimónia...deram o primeiro beijo de casados. A noiva chorava. Ainda.


E eu também. Nunca fui muito lamechas neste tipo de coisas. Achava-me imune a este tipo de sentimentos cor de rosa. Não sei se chorei de alegria (pela S.) ou de tristeza. Sempre achei o casamento na igreja dispensável. Assim como o próprio casamento. Achava que a união e a paixão bastavam.


No entanto, repensei as palavras do sacerdote e revi-as. Começei a pensar que um dia seria capaz de dizer aquelas palavras perante uma audiência repleta de esperança. Achei que seria capaz de trocar uma aliança. Insanidade. Pude pensar num tecto a dois. E sonhar com um despertar entre duas almofadas.


(...)

Não separe o homem o que Deus uniu.


Dizem os crédulos.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Ele há coisas que me enervam...

Sempre tive uma boa relação com os autocarros... E até com alguns motoristas, como é o caso do Sr. Abílio (homem cheio de paciência...). Agora é frustante quando estou quase quase a chegar à paragem e ele brumm, passa por mim. Imediatamente sei que serão mais 15/20 min de espera... Mas a culpa não é dos bichos (vulgo, autocarros). Ora sou eu que me atraso a sair do trabalho (95% das vezes) ou os motoristas vão ali a alçapar e passam paí um minuto antes do tempo, o que faz toda a diferença. E chegamos exactamente ao que mts vezes me enerva e estraga a minha relação douradoura com os bus. Os motoristas. Ele há motoristas que andam desembestados (gosto desta palavra) e que só se lembram que têm de parar quando já estão em cima das paragens e é ver as pessoas a bailar dentro do autocarro. Gosto particularmente quando eles praticam esta condução segura em estradas de calçada. O bus parece que se vai desmontar a qualquer instante, se estás a (tentar) ter uma conversa, ficas mesmo pela tentativa, porque não se ouve coisa alguma e o corpo treme como ele só, fazendo lembrar a flacidez e a celulite que teimam em dar o ar da sua (nenhuma) graça. Estes motoristas também tem outro traço característico, que é não esperar por ninguém, não ceder passagem quando têm de o fazer e insultar a alto e bom som quem se atravessa no seu caminho.

E depois temos os motoristas que enervam pela lentidão. Vão ali, qual turista a ver a paisagem, sabendo perfeitamente que as pessoas têm onde estar para fazer transbordos e afins. Dão passagem a camiões, carros e tudituditudo. Já perdi mts vezes o belo do autocarros à conta destes senhores.
E também já ia apanhando uns quantos ataques à conta dos outros, os desembestados.

Pronto, apeteceu-me partilhar convosco que ele há coisas que em enervam...