sexta-feira, 27 de julho de 2007

Perdido sem nunca ter tido


É-me comum esta sensação de mão vazia e areia a escapar por entre os dedos.

Entro no supermercado e quero aquelas bolachas que havía visto no anúncio de televisão, ontem à noite..."não temos menina, ainda não recebemos". Saio com as expectativas goradas por um não que veio de trás da caixa registora.

Ao caminhar para casa, o cheiro a fruta fesca enche-me a memória de odores que um dia colhi no campo. Quero um pêssego, de roer o caroço. "Não, estes são carecas e larga caroço". Queria um pêssego.

Já em casa, oiço a música de outrora e desejo comprar o cd. Há muito que não compro um cd. Procuro na net. "Não disponível".

Sinto um grão de areia entre os dedos dos pés e quero terminar o meu dia na esplanada de uma praia na marginal. A rádio que toca na janela do vizinho soa a "trânsito intenso na 24 de Julho. Acessos à A5 condicionados, devido a um corte na faixa da esquerda".

Sento-me no sofá a ler aquele livro que há muito folheio. Estendo as pernas sobre a mesa de apoio à preguiça e olho-me no reflexo revelado no ecrã da televisão apagada. Abro um pouco a janela. Cheira quase a verão.

Toca o telemóvel e desejava ler o teu nome no ecrã. Uma mensagem. Uma mensagem bem clara. A luz que passou por entre a leveza das cortinas, bateu no ecrã e deixei de ver a minha imagem reflectida na TV. Melhor assim.

Pousei o telefone. Travei uma gota de saliva e passei as mãos pelo rosto. Li demasiado bem.

Consegui encontrar a resposta. Agora já percebo o mote. Agora sim, sinto o perder sem nunca ter tido. Sinto a água na boca, por um beijo que nunca roubei. Sinto a falta daquela voz profunda a ecoar por entre os meus sonhos e daquelas mãos queimadas pelo sol. Nunca tive. Não vou ter. Julguei ter tido. O doce dos biscoitos, o aroma a pêssego, a melodia suave, o cheiro a mar eras tu. Perdido, nunca tido, jamais achado.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Directamente da Malasia...

Umas poucas palavras para nao deixar em branco este nosso livro nas ferias...

Depois de uma viagem muito atribulada - desesperante ate (com a vantagem de ter conhecido um pocuo Amesterdao, visto que tive de ficar a dormir la uma noite), cheguei ao destino: Singapura. Uma cidade\Estado a que me rendi no primeiro instante...adorei! Mas depois conto todos os pormenores...porque este sitio merece todo o destaque!

Agora estou na Malasia...em Penang. Cheguei hoje, ainda so conheci o hotel. E um choque muito grande vir de Singapura para aqui....mas ha que apreciar um outro tipo de pais!

Fica aqui um cheirinho das minhas ferias...que ainda agora comecaram! Com tempo, contarei todos os pormenores....

(peco desculpa a falta de acentos...mas este teclado simplesmente nao os tem!)

quarta-feira, 18 de julho de 2007

..Saudades de mim..


A verdade é que esta ideia me tem percorrido bastante. Saudades de mim, não do que fui, mas como era. Não se trata de pura nomenclatura, de uma diferença entre tempos verbais, à partida despercebida entre um perfeito e um imperfeito. A vida tem sido imperfeita. Um 'era' desmesurado que queria voltar a traçar, para de uma vez por todas passar ao 'fui'.


Não queria voltar a trás, pelo contrário, queria poder andar pelo caminho novo que se me avizinha. Queria desviar-me de todos os trilhos mal traçados e marcados pelo tempo e seguir o meu caminho. Não aquele que quero, mas aquele que a gente à minha volta chama de 'melhor'. Queria porque queria.


As saudades de mim nascem na primeira curva deste 'destino pedonal'. Chamo-lhe assim, embora sem justificação aparente, porque sei que o destino está lá, mas teimo em percorre-lo sem dar espaço às aventuras do dito fado. Quero apalpar todas as hipóteses e sentir o cheiro a felicidade por entre os meandros do que aos poucos se me avizinha.


Com medo espreito, quando me sinto mais ousada, e não gosto do que vejo. O velho do restelo que um dia, ainda criança, me disse "é para sempre" pára lá ao fundo, como um eco que não me deixa escutar a voz do futuro. A verdade é que sigo à risca os ensinamentos desse ansião, que mais do que um ditame, me deixou este legado entre mãos, que sem querer fui deixando entranhar-se. Foi como se tivésse repetido, sem saber, o "para sempre" e o tivesse sussurrado no vento. Foi para longe. Nunca mais voltou sem sequer ter saído de mim.


As saudades de mim. As saudades de rir até chorar. Por as mãos nos olhos e dizer com um sorriso: "já estou a chorar...de rir". A verdade é que queria muito voltar a rir. O sorrir esconde-me muitas vezes desta falha que, aqueles que me conhecem desde que ouvi aquele velho, sabem que já não controlo.


Tenho saudades de soltar o cabelo e sentir a mão por entre os cabelos e aquele arrepio tão certo. Tenho saudades desse arrepio tão verdadeiro. Queria cruzar a esquina e senti-lo. As expectativas saem constantemente goradas pela sombra que me rouba ao sol.


Queria fazer tudo igual. Não mudaria nada, à excepção daquele 'sim'. O 'sim' quase eterno.


As saudades de mim estão de longe de desaparecer. Queria sair a correr por esse caminho fora, sem medo de cair, sem ver o velho cada vez que olho para trás.


Tenho saudades de mim apaixonada. Pela vida, pelas coisas, por aquela música e por aquele cheiro. Tenho saudades de mim maquilhada pela felicidade e vestida pela paixão, com perfume de encanto. Saudades de bater com a porta de casa e saber que alguém me espera. Saudades de misturar as cores e os afectos. E de repente o velho. E o destino.


O velho e o destino. E a curva que queria deixar para trás parece mais longa que nunca.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Conversas de Verão

Foto: Pascal / LLN


...são as melhores. Palavras vãs, ou nem tanto. Expressões menos carregadas, noutro dialecto, que me fazem ora rir ora sorrir. Descobrem-se afinidades circunstanciais, que no momento fazem sentido e demoram a ser esquecidas. Magia das novas liguagens!
Não é magia dos contos de fadas. É antes um pózinho especial, de cor dourada, que inunda os poros da emoção. Estilo primavera, mas com a fogosidade do calor. Daqui podem nascer os mais variados impulsos: promessas, desejos, ímpetos, dedicatórias, surpresas, ousadias...tudo junto, a caminho do desvanecimento. Sim, porque são conversas de Verão. O tema não interessa. Ou interessa pouco, porque é no dizer que está a questão: um desafio!
São conversas de Verão, sem raízes, estilos ou adornos. Aespaciais e intemporais.


xxxxxxx


Rir em francês tem outro gostinho. Lembrar em belga, outro sabor. Doce e suave. Experimentar em espanhol é novo, por isso, brilhante. Aventuro-me por aí numa analepse constante ao Erasmus, contudo, sobre estradas virtuais do presente.
Onde irei parar? A mim, provavelmente.
Hoje não me perguntaram "porquê". Ofereceram-me um "eu também". Foi o suficiente. Respondi: "a mí también me gusta mucho hablar contigo".
Ah...era uma conversa de Verão!

domingo, 15 de julho de 2007

Lá longe, na terra dos avós

Entre as planícies alentejanas, chaparros e oliveiras, ergueu-se um fim-de-semana revitalizante. Uma pequena casa cheia de estórias (a que eu teimava chamar moinho), situada na Aldeia Velha, foi o nosso lar, onde dormimos, comemos, conversámos, abraçámos e tirámos fotos.


Depois vieram os mergulhos. Uma piscina grande, de água quentinha, a uns quilómetros dali, em Avis. Sombras grandes, com lugar para todas as toalhas (as nossas e as dos junkiezinhos do festival), e umas embirrações estranhas com calças dentro do recinto - "A menina não pode entrar com calças (!?). Banhinhos de sol, algum protector solar e muita conversa. Que descanso!

Nestas alturas - em que está uma num ambiente familiar, e outra num desconhecido - a amizade tem um gostinho diferente, de descoberta/ensinamento. Tu com um brilho do "voltei" e eu com o entusiasmo do "conheci". Mais uma recordação para o nosso baú, não é?

As canoas estavam à nossa espera. Ou talvez não. Tivemos que levá-las em mãos até à barragem. Chamaste-nos "fraquinhas". Tive vontade de ripostar e dizer: "corajosa". Afinal, estavas a reviver passos comprometedores no meio de um passado que te ainda hoje te rouba o sorriso.

Lá fomos, de mãos a doer. De canoa na água, a conversa era outra. Os lemes levaram-nos onde (não) queríamos ir. Não tinhamos destino. Que bom que é não ter destino! A corrente foi o nosso mapa (para não falar da "grande aranha" que "espero que já esteja morta").

Já em terra, um tango muito bem acompanhado com vista para um sol a bater no rio e uma árvore estrategicamente localizada para fotos de postal (em sépia, claro) desfizeram o dia. E que belo dia!

Cansadas, não conseguimos renunciar às batatas fritas da Vó Jaquina. Mas renunciámos à civilização e abraçámos o colchão da sala. Juntas.

Também foi juntas de adormecemos por ali e, juntas seguimos, sonolentas, para o quarto. "Boa noite!", e não chegou para mais...


Novo dia, novo tempo. Menos sol, mais frio, mas a mesma boa disposição. A água da piscina estava à mesma temperatura, a Janeca e a Bia continuaram a rir, cúmplices de uma vida inteira. A Alice, com os joelhos esfolados, permaneceu a mãe de nós todas: linda, patareca e com uma alegria contagiante. Nós esgotámos mais uma vez as nossas fotos da praxe e rimos pela estranha "fauna" que não te deixou dormir. A chuva afastou-nos (ou será que foi o ponteiro do relógio?), indiciando que o fim-de-semana estava a terminar.

Já de regresso, cantámos. Como sempre.

Lá longe, onde cheira a terra dos avós, fomos nós. Demos continuidade aos nossos sonhos, sonhámos com medos e coisas boas, falámos de quem não pôde vir e fizemos planos para o futuro.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Mexicano?! Qué guay, no?


Prometemos reunirmos aos 50, com a mesma vontade de sempre, pensámos em abrir um restaurante, o '4 Sabores' com um prato do mundo em cada dia, rimos com as piadas de sempre, contámos novas histórias e novos sonhos. Trocámos sorrisos e uma lágrima pela amizade. Brindámos a nós e àquilo que nos une neste e em todos os outros momentos. Pintámos um quadro mágico, cada uma com a sua cor, numa tela de magia e sabores que só nós sabemos como desvendar...ADORO-VOS***

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Hoje a Lua está em Festa

5 de Julho.
Aniversário.
Flores no cabelo, botas originais, canudos cor de mel, caidos em ombros destapados.
Um nariz pequenino, orelhas pequeninas, mãos pequeninas, pulsos fininhos.
Um sorriso ora discreto, ora brilhante.
Olhos castanhos amendoados, sem pinturas, ao natural.
Morada: Rua da melhor cortiça do país, nº7 r/ch, ao largo da mercearia e padaria mais castiça da zona - 0023 Lua.
Trigueirinha, sportinguista ferranha e com novas paragens no mar.
Jornalista profissional, criativa e dedicada.
5 de Julho.
Aniversário.


O teu aniversário. O teu dia. A tua festa. As tuas prendas. O teu momento - CONNOSCO!





Em nome do B.A.BA muitos PaRaBéNs!!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Ao colo da vida


Já lá vai o tempo em que me acusavam das constantes mudanças repentinas de humor. Os sorrisos que voavam sem mais nem menos para um outro planeta distante, para dar lugar à cara feia (meio amargurada) que se instalava sem pedir permissão. E, neste processo, um vazio que nunca soube dar nome, uma razão suspensa no ar demasiado etérea para ser deslindada. Mistérios do passado...

...que me assombram de novo. Não quero sorrir. Não me apetece falar nem gritar, nem ficar. Hoje no longe parece-me estar qualquer coisa que vale a pena, uma fonte algures que sacie a sede de sair do mesmo sítio. Fugir dos lugares que em mim são estações demasiado revisitadas. Estou cansada.

Nestas alturas - quando a lucidez face à realidade se perde nos trilhos da tristeza infundada - parece-me que estou a ir de boleia, anestesiada e dormente, ao colo da vida.

domingo, 1 de julho de 2007

Ninguém perguntou por mim?


Nestes últimos tempos têm-se cruzado comigo tantas situações absurdas que aos poucos deixei de ter tempo e encanto...A verdade é que deixei que o tempo passasse por mim, à velocidade da luz trémula de um futuro incerto. Sem querer deixei que tantas coisas acontececem que ainda não tive espaço para as arrumar na minha nova casa.

Sim, mudei de casa, mudei para onde nunca imagei mudar. E tal como esta, muitas outras coisas surgiram no meu caminho, como pedras pesadas e dificeis de ultrapassar. A casa já está. Estou bem, contente e arrumada. Sonho numa cama gigante, desperto-me num quarto cor-de-laranja e com aroma a lavanda e nos entretantos assumo que durante muito tempo estive enganada.


No trabalho, as coisas surgem em catadupla, a um ritmo mais do que alucinante. Estou bem, de facto, contente, mas cansada. Sim, cansada. Gosto das pessoas. Das cumplicidades que aos poucos vamos conquistando, gosto do regime do "tu".


Na vela, a brisa do mar preenche me o final do dia, com esta ou aquela nota de um ou de outro canto do mundo. Sabem bem estes momentos. Têem o salgado do mar que me dá a sede de querer saber mais e mais e aquele gosto especial que costuma trazer o desconhecido. Tem encanto, é verdade. Tem o seu quê. Aquele quê.



Estou para dizer a verdade numa fase de desencanto. Comigo, porque não tenho conseguido gerir o meu tempo. Acabou-se o mandarim, o ginásio e os fins de tarde desafogados. Com ele, porque finalmente a vida me ensinou a ver o teatro de uma maneira bem diferente. Desci do palco para a plateia e agora sim, vejo-o numa peça para qual não comprei bilhete. Optei por ficar à porta. Já li o resumo e não gostei do que ante-li. Melhor assim.