segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

As minhas visões kodak

O sol de Belém batia forte nas pedras frias dos bancos poetas. Eugénio de Andrade não se queixou...nem ele, nem os muros (já gastos) da Torre que, ali imponente, se vangloria desde que foi edificada para as gentes da terra (turistas ou não) e do rio.
O céu alaranjado anunciava um final de tarde esplendoroso, com raios de sol baixinhos e sombras gélidas. Ontem tinha sido um bom dia para nevar. Ou para ir abraçar as flores. Mas tactear o chão da cidade, folheando um livro e observando a linha ténue que separa os azuis do ar e do mar foi também um bom rumo.
As grandes carrinhas paravam em segunda fila e os curiosos desciam as escadas já de máquina fotográfica na mão. O dia estava óptimo para capturar imagens...para roubar momentos ao tempo efémero, incitando a eternidade cosmopolita. Entre a relva meio molhada e o cais da Torre, muitos passaram sem sequer reparar nas palavras que o banco onde me sentava projectava. Eu reparei, li e retive. Os outros, porém, concentravam-se no vasto rio que separa a capital da outra banda; do Cristo Rei lá no alto; ou, tão simplesmente, na miniatura da Torre de Belém.
As mãos enregelaram e os pés arrepiaram-se. Ajeitei o cachecol, fechei o livro e pensei: hoje tinha sido um bom dia para ser partilhado...para ser olhado em conjunto, para ser vivido de mão dada. No fundo, partilhei momentos com o sol, olhei em uníssono com o coração e colei a minha mão ao livro, um companheiro de todas as horas que recheia a alma de palavras e significações. Portanto, ontem foi um bom dia para mim...

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