Há muito tempo que não sou assaltada por uma enxurrada de palavras a quererem sair pelo corpo. Aquele sentimento de "estar aflita" para organizar ideias no papel (ou ecrã), esvaziar um caldeirão cheio de emoções a fervilhar. Há muito tempo que não sinto urgência em encher uma página de estórias minhas ou de outrem, de explicar isto ou aquilo, de contar a novidade do dia, do mês. Já nem me lembro bem da sensação de me inspirar com o aceno de mão de um estranho ou o riso de uma criança na rua, a expressão dura dos utilizadores dos transportes público, um beco encantado perdido nas ruelas da capital...a fonte não secou, mas está com ar de abandonada, de descuidada.
A atenção dispersa-se e a escrita vira ritual antigo, cheio de pó e teias de aranha. Como um livro velho, há muito não revisitado. Um eco em surdina, perdido algures no tempo. Preciso de recuperar o jeito, o hábito, a mania e a obsessão. O timming e a paixão.
Trabalho, stress, obrigações, responsabilidades, pressão, vida, discussões, amor, ódio, sentimentos, sono, cansaço, irritação, blá, blá, blá, blá...porque não inspirar-me com...o dia-a-dia mais comum??
Humm...
Será que a inspiração anda por aí, no ar? Como um bafo de ar quente num dia gelado de inverno ou uma lufada de ar fresco num dia abafado de verão?
Será?