sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Elogio ao Cinismo


Confesso que detesto um sorriso cínico, o tal amarelo com que nos deparamos quando passamos à frente na fila de espera. Aquele que sentimos do outro lado do telefone, quando ouvimos "pode aguardar só um bocadinho?". Existe também aquele tipo, entre o sim e o não, que substitui na perfeição o "não sei" ou o silêncio forçado. Há até quem consiga sorrir cinicamente entre amigos, quando alguém rouba o último pedaço de bolo em cima da mesa. Entre as pessoas cínicas, existem, como no teatro, os bons e os maus actores. Sabe sempre mal quando conhecemos as pessoas, quando conhecemos tão bem os seus gestos e demais, que rapidamente descortinamos a história por detrás daquele sorriso a meias. Estes são claramente os maus actores. Que deixam passar pelo olhar as incertezas da mente.
Existem então os bons actores. Vivo rodeada deles, com certeza. Há os por todo o lado. Confesso que não suporto uma boa performance de cinismo. Deixa-me uma certa vontade de perguntar "está alguém aí?" por detrás daquela máscara tão singela e disfarçada ao toque. São os vilões. Aqueles que odeio, por detrás deste sorriso cínico. Que sim também o tenho, mas que raramente sei usar. Isto porque prefiro matar com as palavras sinceras. E sim, o cinismo mata. Mata as amizades, as relações e os laços. Aos poucos sufoca o desdém e fortalece a descrença. Depressa cria ratoeiras e labirintos, cruza papéis e dá de novo. Nunca esta expressão foi tão perfeita - baralha e dá de novo. É assim que se criam os cínicos e as coisas cínicas. Quando não há mais nada a fazer reciclam-se as palavras e dá-se de novo aquele sorriso cínico. Baralha e dá novo...todos os dias.
E subitamente começo a ficar cansada deste ritmo alucinante da hipocrisia.

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