quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Vazio.

Estes últimos dias têem sido isso mesmo - vazio. Em jeito de desabafo misturo sentimentos e devolvo gestos pouco afáveis. Os dias quentes de verão terminam, por entre vendavais de um outono pouco pronunciado. A rotina trabalho - casa, aos poucos, cria-me uma espécie de revolta pacata. A hipocrisia no trabalho revolta-me mais. Os dias abafados e sós fazem-me menos resistente do que aparento e só há lugar para o cansaço e cinzento. As conversas de corredor distraem-me. Mas o pouco tempo que me sobra não chega.
Para mim sobram talvez duas horas. Neste dia de 24. Entre o chegar a casa, cumprir as tarefas e até pensar um pouco nas escolhas que fiz, sobra-me pouco tempo. Faz-me falta aquele abraço ao final do dia, como quem susurra - "está tudo bem". Não há lugar para tristezas, é certo. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Apetece-me largar tudo e começar do zero. Dos tempos em que apanhava o 56 até à av. de berna. conhecer de novo aquelas pessoas e lugares e de alguma forma alterar o rumo das coisas. Fosse isso possível, não estava aqui. Dali não guardo muito, mas o essencial: as amigas.
Mas agora já nem existem jantares das amigas! parece que de repente deixaram de ter segredos para partilhar ou ter vontade para o fazer. aos poucos desvendamos o previsível e já nenhuma delas pergunta: quando vai ser o próximo? deixo essa questão para as noites bem dormidas para que não perca o sono. Os umbigos são cada vez maiores e sem nos darmos conta cada uma cresce à sua maneira. Ou porque já tem programa, ou porque estava ocupada ou até porque não consegue abrir a porta com uma mão apenas. O "olá" do outro lado parece desinteressado e talvez por isso começe a achar que se perdeu o encanto das amigas. Sem surpresas damo-nos conta que nada mais há a acrescentar. Parece que a Nês é que tem razão cada vez que diz "está tudo bem...".
Não está nada bem quando penso que eliminei do calendário o aniversário da minha mãe e de tantas vezes que repassei as datas 6/7 setembro nunca me lembrei que fazia anos. Alguma coisa de errado mora em mim. Senti-me mais pequena que nunca por me ter esquecido. por nem sequer ter pensado numa prenda ou numa surpresa. senti-me a pior deste mundo e do outro. mas já passou. as auto-criticas chegaram para me lembrar. e para me deixar este vazio. que o silêncio do outro lado não ajuda a colmatar.

3 comentários:

Estagiária disse...

Hoje, também eu tenho um vazio desses. Por isso, não sei que possa dizer-te para o preencher. Apenas isto: quando estamos juntas, todas essas dúvidas e coisas más que pensamos quando estamos longe desaparecem. E segunda já estou ai. Para partiharmos a hipocrisia, as conversas de corredor, ... os dias. Espera por mim. *, L.

Anónimo disse...

nem sempre o vazio é real.....muitas vezes as coisas(pessoas;amigos;familia)estas mesmo ali ao nosso lado....

bjs

Anónimo disse...

Acreditas que deve ser a primeira vez que leio algo no blog...?No entanto identifico-me plenamente com o que sentes, apesar de estarmos em situações diferentes...
Será este o rumo natural das coisas? Seremos nós que "parvamos" e achamos que ficamos crescidos e com responsabilidades demais para continuar a agir da mesma forma com os amigos? Ultimamente questiono-me muito sobre isto. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão mas de uma coisa estou certo: o meu umbigo nunca me há-de cegar e estarei sempre aqui pras nossas jantaradas e conversas "off the record". bjk

Ass:Anjo sem asas