sexta-feira, 4 de maio de 2007

Império dos cinco sentidos

Shiu. Escuta!
Ouves os sinos?
É da celebração das bodas de prata da solidão. São pequeninos, vês?
E o aroma amargo que emana das flores, consegues sentir?
É o fel do desânimo. Coitado...anda de mãos dadas com a desmotivação a maior parte do dia. Um dois-em-um daquele ínfimo minuto do quotidiano que me rouba o sorriso.
Descansa.
Há sempre o perfume do sol, agora que é Maio e que o Verão espreita inquieto. Bom não é?
Tomara a Primavera durar todo o ano. Assim o brilho do céu estava sempre garantido. Esse sabe a morangos e de noite a melancia, porque é fresquinho.
Estás a ver os coraçõezinhos que decoram aquela moldura?
É uma ilusão. Na verdade são só bolas cinzentas mal coladas no mundo. Já dizia Descartes que os sentidos são enganadores...
Fia-te antes na razão e pensa nos argumentos facilitados dos arrepios de frio. Ou das dores de estômago. Percebes melhor as ânsias?
Hum...volta às sensações. Esquece Descartes.
Toca nas rugas da testa. O que serão?
Caminhos errados (ou tão simplesmente escolhas impossíveis).
E a textura da pele, o que faz lembrar?
Ouriços.
Agora concentra-te no borbulhar dos sonhos. Estão a ferver, é pena. É esse o elixir para vencer as teias da vida, os cantos do mundo.
Bem, há sempre a vontade, que cheira a mar...
...e o amor que sabe a tudo.
Mas no final ouves os murmúrios ensurdecedores da saudade e tudo o resto fica mudo, quieto, incolor, sem sabor, cheiro ou rugosidade palpável.
O melhor é cerrares os olhos. Tapar os ouvidos e fechares a boca. Esconde as mãos também.
Sente só a brisa do vento. É esse que vem para ficar. É a dúvida personificada num ar quente e abafado.
Tens calor?

1 comentário:

Estrelinha disse...

E é essa brisa que nos toca entre os cabelos emaranhados pelo vento fresco que nos lembra que existe alguém a soprar pelo nosso nome, que sussura à brisa para que ela nos traga a incerteza: "será chuva, será vento, gente não é certamente..." e é nessa dúvida que ficamos, entre o amargo da verdade e o doce do sonhar, numa mescla de sensações tão dúbias que o que desejamos apenas é poder saborear os pequenos aromas do "agora".