segunda-feira, 17 de março de 2008

Egoísta.


Enquanto aguardo, sem egoísmos, o final deste dia que nunca mais chega, penso. O relógio, egoísta, marca o tempo, bem devagarinho e a hora de saída tarda em chegar. Lá fora, o dia lusco fusco promete uma noite fresca e plena de maresia. O sol, egoísta, brilha por entre as nuvens densas de chuva por cair. O rádio, não soa a nada em concreto. E na minha cabeça passa a letra daquela música nova da Rihanna. Gosto tanto. Mas até a letra é egoista, "I hate that i love you...".

Sem querer lanço os pensamentos pela janela e sem dar por isso recosto-me no teu colo. Penso vezes sem conta se é o mais certo Se estou a desenhar com o lápis adequado ou até se o desenho ficará bem pendurado na minha parede. Penso nas cores que quero. E os tons pastel parecem-me os melhores. Nem sim, nem não. Pastel. Há muito que deixei as cores choque. Prefiro as cores egoístas, que não ficam bem nem mal. Que, sem querer, transformam o agitado em calmaria.


Os pensamentos continuam no teu colo. Nem me atrevo a sussurar-te o que penso. Guardo, sem memória, os pensamentos. Os meus. Não quero partilhar contigo o que não sei. Não quero construir contigo o que não tenho. Um desabafo, como tantos outros.


Penso a medo e com o rótulo de egoísta a travar-me os sonhos. Custa-me acreditar que a vida me trocou as voltas, sem pedir licença. E que me rouba o sorriso sem pedir, "por favor".


De tempos a tempos, reinvento-me. Ora fico triste, ora rio à gargalhada, ora me escondo, ora te dou a mão. Ainda não encontrei o sítio e a maneira certos. Não sei se me sento ao teu lado, ou em frente. Não sei vou sózinha ou se te convido. Não sei se telefono, ou mando uma mensagem. Não sei se apago a mensagem ou se guardo paracomo lida. Aprendi a não guardar recordações. Com facilidade se deita fora uma paixão. Aprendi. "Não vale deitar no ecoponto", pensava eu na brincadeira. Não sei se escolho o vestido ou as calças de ganga que me dão o tal ar selvagem. Nem se ponho o risco preto nos olhos ou não. Olho me ao espelho e é cada vez mais dificil perceber se gosto ou não.


Mais um dia não, penso enquanto pego na mala para sair de casa. Quando fecho a porta, verifico se dei todas as voltas à chave. E assim como fecho a porta, fecho o coração a sete chaves. Não deixo que ninguém perceba o ritmo a que bate e, muito menos, se bate.


"Quando queres, és tão fria!, diz a L.. Gelam-me os sentimentos e os anseios. Polvilho de neve e cubro de gelo os gestos carinhosos. Escondo, por detrás do iceberg, o "sim". E no meio da avalanche, vou levando quem não quero. Egoísta?


Não pedi a ninguém para procurar comigo a agulha no meio do palheiro.

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