quinta-feira, 27 de março de 2008

Quando se quer dizer "nada"


O caminho para casa foi quase doloroso. Custou-me acreditar que por entre tanta sinceridade não sobrou nem um espaço para uma última palavra sincera. Voltei as costas com a convicção de que tinha feito o correcto. Baixei os olhos por entre a vontade de dizer "não vás" e susurrei "não desapareças".

O sítio era estranho e pleno de histórias vagabundas. Esta seria mais uma. Um entra e sai que não merece sequer uma linha, depois de tanto despojamento. Creio que não há politicamente correcto aqui. Nem tempo para pensar se foi bem ou mal dito. Escrevi, entre as linhas da Rua dos Duques de Bragança, uma história mal contada. Sem personagem principal ou didascálias. Poderia ter escrito:
- E A., num tom inseguro disse: "Reescrevo a tua mensagem. A mim também."

O silêncio marcado pelo andamento dos tacões gastos pela calçada respondeu por mim. Afinal somos todos cobardes, quando ousamos pensar o que realmente queremos para nós. Somos todos "okupas" uns dos outros, sem pedir licença. Queria ter pedido licença para me chegar ligeiramente para lá. Achei melhor não. Deixei-me ficar a contemplar com descrédito a minha inércia e razão.

Parece que cresci de repente. As palavras ordeiras ganharam-me. O sorriso opaco também. É tão mais fácil assim. Quando se quer dizer mil uma coisas e só nos sai um "nada, deixa estar".

E parece que, de repente, tropeço numa pedra.

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