terça-feira, 25 de março de 2008

Um outro som.

"O barulho das tuas botas irrita-me profundamente", diz em tom de brincadeira com seriedade no rosto. Dói-me as bochechas de tanto rir, confessa. Nada de mais para dizer, nada de mais explicar, nada de mais para esconder. É desconcertado, desatilado (como dizem as avós) e um quê de charmoso. Rio-me, só de pensar no ar de génio. Na mala traz um encantador de serpentes, um ladrão de almas e algumas notas soltas. É diferente dos demais porque acorda demasiado cedo para fazer o que os outros não gostam e fá-lo com um gosto tão imenso que chega a meter inveja. Não lhe sobra tempo para ler, escrever ou reflectir.
Corrói-se com as amarguras dos hipócritas e pela atitude sobranceira dos outros. Cheira a palcos e a fama. Sabe a campo(s) e a inocência. Tem um toque de delicadeza escondido pelos desatinos interiores. Parece fácil de entender, à vista desarmada. Há até quem diga que "não vai durar para sempre". Alma de prodígio.
Encanta-se com a vida, as paisagens e os sabores. Encanta-se com o sorriso, com as estrelas e os sons. Sonha com uma procura infinita. Com um "nunca mais acaba". Tem semblante de anjo de outro planeta. Dizem os que o conhecem que "mudou bastante".
Encontrámo-nos entre um doce da avó. Entre um aroma a café e um travo demasiado doce. Entre um olhar escondido por detrás da cobardia.
Um convite para um chá, café ou laranjada. E uma conversa agradável, por entre uma companhia interessante. Um outro som, pensei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sentiste correctamente este som.
Um som que não é bonito,mas de rara beleza.
Como aueles pedaços de pedra que já trazem tudo o que o escultor revelará.